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Esqueleto

   

Na penumbra do entardecer, as sombras da antiga Favela do Esqueleto se estendiam pelo terreno onde hoje se ergue majestosa a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). 

No entanto, a história daquele lugar remete a tempos muito diferentes, tempos marcados pela luta e pela resistência de um povo esquecido.

Era o ano de 1930 quando as primeiras construções improvisadas começaram a brotar entre as estruturas abandonadas do que seria um hospital do Instituto Nacional de Previdência Social (INPS). 

As pessoas, desabrigadas e desamparadas, viram naquelas ruínas a oportunidade de um lar. 

Assim, a Favela do Esqueleto nasceu, um emaranhado de barracos e vielas que abrigavam vidas marcadas pela adversidade.

As décadas passaram, e a favela cresceu, tornando-se um ponto de referência na paisagem urbana do Rio de Janeiro. 

Contudo, nos anos 60, uma sombra ameaçadora pairou sobre aquele pequeno universo.

O projeto de remoção de favelas das áreas centrais e nobres da cidade ganhou força, impulsionado pelo apoio dos Estados Unidos e pela sombra sinistra da ditadura que se instalara no país.

Os moradores do Esqueleto foram obrigados a abandonar suas casas, seus lares improvisados, e foram levados para terras distantes do centro e da zona sul.

A maioria encontrou destino na então recém-fundada Vila Kennedy, uma homenagem ao presidente dos Estados Unidos que financiara o projeto de remoção.

Antes de chegar à nova morada, porém, enfrentaram uma provação ainda maior.

O Centro de Habitação Provisória (CHP), na Maré, era o primeiro ponto de parada para aqueles que eram deslocados. 

Mas o que era para ser temporário tornou-se uma verdadeira saga.

Os barracões insalubres e as condições de vida precárias alimentavam um clima de descontentamento entre os alojados.

Foi nesse cenário de desesperança que surgiu a semente da resistência.

Os moradores, unidos pela adversidade, fundaram uma Associação de Moradores por volta de 1980.

Aos poucos, o que era para ser um lugar provisório se transformou em uma comunidade permanente. 

Assim, nascia a Nova Holanda, um reduto de esperança em meio à escuridão da opressão.

Nas vielas estreitas e nos barracos de madeira, o espírito de solidariedade prevalecia.

As histórias de luta e superação ecoavam entre as paredes, fortalecendo o vínculo entre aqueles que ali viviam.

A cada dia, a Nova Holanda se erguia mais forte, desafiando as adversidades e reivindicando seu lugar na cidade.

E assim, a Favela do Esqueleto, um dia banida e esquecida, tornou-se o berço de uma nova comunidade.

Entre os escombros do passado, brotou uma nova esperança, alimentada pelo desejo inabalável de liberdade e justiça. 

E na memória daqueles que ali vivem, o nome da antiga favela ecoa como um lembrete de que, mesmo nos momentos mais sombrios, a luz da resistência nunca se apaga.


Texto ficcional

Arte: pintonorio