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A Creche

    Em uma noite fria de junho, na Favela da Maré, um grupo de moradores se reunia em uma pequena sala comunitária para discutir uma ideia que poderia trazer um pouco de esperança para a comunidade da Nova Holanda: uma festa junina para arrecadar fundos para uma creche local.
    
Entre os presentes estavam professores que sonhavam com um futuro melhor para as crianças da favela, e mães dedicadas que buscava oportunidades para seus filhos.

Decididos a levar adiante o projeto, os moradores organizaram tudo meticulosamente, preparando comidas típicas, montando barracas e planejando atividades para as crianças.

No entanto, havia um obstáculo: a necessidade de autorização para fechar a rua onde seria realizada a festa.

Com coragem, alguns colegas decidiram ir até o 22º batalhão de Polícia Militar para pedir a autorização necessária.

Ao chegarem lá, foram recebidos pelo comandante, que os encarou com desconfiança.

Após ouvir a proposta, o comandante lançou um aviso sombrio: "Eu não vou dar autorização nem vou impedir, se os "meninos" estiverem por perto e houver problemas, a responsabilidade será de vocês".

Essa resposta ecoou na mente dos moradores, trazendo à tona as tensões e desafios enfrentados diariamente na favela.

Uma ameaça pairava como uma sombra sobre a festa planejada com tanto carinho para as crianças da comunidade.

Enquanto isso, discursos desumanos das autoridades ecoavam como uma sinfonia macabra, reforçando a ideia de que a vida na favela não tinha o mesmo valor que em outros lugares.

Palavras que denotavam a desvalorização da vida nas favelas, como se fossem territórios onde as regras da humanidade não se aplicassem completamente.

As frases cruéis e desumanas proferidas por políticos e autoridades ecoavam como um grito de desespero para aqueles que lutavam por dignidade e justiça.

Sentiram-se abandonados pelo Estado, que parecia mais preocupado em manter sua "ordem" do que em proteger a vida das crianças da comunidade.

No entanto, apesar das adversidades e do constante desrespeito às vidas daqueles que habitavam a favela, a comunidade se uniu em solidariedade e resistência.

No dia da festa junina, as ruas da Nova Holanda se encheram de cores e música.

Mesmo com o risco iminente da presença dos "meninos" e da violência que os acompanhava, a comunidade se uniu em um ato de resistência pacífica, mostrando que a solidariedade e o amor podiam superar qualquer obstáculo.

A festa junina aconteceu, trazendo alegria e esperança para as crianças e suas famílias, que se recusavam a aceitar a desumanização imposta sobre eles.

Enquanto o mundo exterior continuava a menosprezar suas vidas e a relativizar sua humanidade, os moradores da Favela da Maré se mantinham firmes, lutando por um futuro onde todos fossem reconhecidos como iguais, independentemente de onde vivessem ou de sua condição social.

Pois sabiam que, apesar de todas as adversidades, eram seres humanos dignos de respeito e dignidade, e estavam determinados a lutar por um futuro melhor para si e para as gerações vindouras.

Texto Ficcional
Autores: Dona Ia e Seu Dias
Arte: pintonorio